segunda-feira, 28 de março de 2016

Águas internacionais



entristeci-me na arte
eloquente. na simetria
estável das palavras.
pratiquei a demência
com um amargo estranho
de tempo e não matei
apenas por vergonha.

o olhar vago já lavrou
a terra húmida e as
palavras – os vermes –
verteram uma alegria
alheia sobre o arado. 


deixarei que sepultem
a minha voz estrangeira
no cadáver de uma ave
infértil - que mova as
asas apenas para se
desassombrar da vida. 

o resto será a luz tosca,
apenas, de uma língua
entrecortada a navegar,
a despropósito, o sangue
menstrual. a afogar uma
pátria de versos findos.



quinta-feira, 17 de março de 2016

uma canção europeia


o que mais gosto no homem
de Vitrúvio é o vazio.
o espaço desocupado pelo
corpo áureo que
a expressão aleatória
e infértil preenche
de deus.  
o tumulto imóvel
a chover sobre a
horizontal parcimónia
e os dois braços abertos
com critério;
o rosto pacóvio de
quem não tenciona
a imperfeição:
um abraço torto,
feio, e sem
geometria nenhuma.
um disparate assimétrico
e inconstante que talvez
vá servindo o sorriso
intermitente.