terça-feira, 17 de junho de 2014

Capitular


o peso das mãos
sobre a cama onde
os insectos; as unhas
desagregadas se enrolam
no cheiro da carne em
decomposição.
os lábios cheios de sangue
e os olhos fechados para
não explicar o desespero
de estar, de ser, só. 

corrige-me a postura;
a posição dos dedos
dentro da boca à procura
de acabar a noite com
a cabeça dentro da sanita
e o coração no fundo do
estômago reduzido a um
silêncio de morte,
suco gástrico
e movimentos peristálticos.
as costas da mão com
o peso vazio de não
servir de apoio a
ninguém. 

os insectos perdidos
a recortar a madeira
em forma de árvore
como se o tempo
dançasse e as palavras
se misturassem na
língua para dizer
que, afinal, não sei
morrer assim.  
não posso. 

segunda-feira, 2 de junho de 2014

negócio de distâncias



passo pelo amor com
as malas cheias.
o sabor ácido das
palavras que sobram
e nunca chegam a
significar
nada. 

repito 

adormecer despido
sobre a cama sem que
ninguém procure
justificação para
morrer assim;
um silêncio oco que me
contém.
acordo durante a noite
com a sensação de
guardar no peito
a lâmina ainda
quente de cravar
sons entre as
costelas.
sou o que sobra
de um poema
inteiro.
não me encontro o
sorriso entre as
folhas rasgadas
e corro; canso-me
depressa da velocidade
do mundo e deixo-me
cair na esperança; 

deixo cair a esperança 

de um dia ter os bolsos
vazios quando encontrar
uma moeda que se possa
trocar por mais um dia
feliz em qualquer loja de
conveniência.