domingo, 19 de janeiro de 2014

Métodos de aprendizagem I



aprender a morrer mais uma vez,
sufocar no silêncio de ser só
a palavra desfeita, um atropelo
ao sorriso. uma cómoda velha
no meio da sala em modo de auto-
-destruição; os bichos da madeira
a rasgar a carne com a boca
ensanguentada e cheia de
gravilha; de poemas por escrever
nas gavetas vazias. subir as escadas
à procura de tempo. fazer a cama
ainda com as lágrimas que sobram
da noite que passa. os animais
deitados sobre a memória, ainda,
de um incêndio. sortear o corpo
que falta e distribui-lo pelo quarto.
arrumar a roupa espalhada nas
gavetas e sentir o cheiro, ainda,
de um sorriso. suspender o corpo
no lugar do candeeiro
e assumir que a luz,
finalmente, se apaga;
se acende.

a matéria estranha do corpo
inerte balança devagar;
arruma-se na última
gaveta da cómoda.
ninguém saberá.

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