sexta-feira, 28 de março de 2014

bebedouro



há dias em que o sorriso;
os olhos abertos de alguém
que não existe se expandem
sobre o teu corpo e é o abraço
possível.

a caixa de cartão rasgada é uma
espécie de cama; as costas;
o sangue das costas a
cobrir o chão onde escorrem
os sonhos
saltar do passeio com a criança
que sobra do corpo cansado e cair
triste no chão com os joelhos
esfolados
os vidros; estilhaços; espalhados
pelas pernas que suportam, ainda,
o corpo ligeiro de um homem sem
alma.
peço uma moeda para comprar
outro sonho, outra cama;
talvez um cartão mais resistente
que não ensope com a chuva;
com as lágrimas. mordo devagar
as irregularidades físicas de
estar vivo; de tentar o movimento
na esperança que a vida,
as costas ensanguentadas
sobre a calçada
sejam o carinho que carrega
os pés descalços para os beirados
e as mãos cansadas que se apoiam
no ventre quando
os olhos de alguém
tão bonito como tu
caem sobre o peito e rasgam
o externo na trajectória do beijo. 

o rio transborda
e os velhos cortam
o pescoço a duas ou três
galinhas.
 ainda correm; sonham
no espaço que sobra
entre a cabeça e o
coração.

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