domingo, 16 de novembro de 2014

Vinte e dois nós e meio



espalhar as canetas sobre a mesa; o tampo
manchado de vinho e sangue.
a tinta e o plástico; a tampa roída de outras
noites sem dormir . acender um cigarro
com um fósforo molhado e morder o filtro
para não chorar. 

se chegares entretanto não faças barulho
- a terceira tábua depois  da porta tem o hábito
de ranger quando se passa sobre ela devagar -
agarra-me o braço adormecido como se não estivesse
já demasiado frio. movimenta-o de um lado
para o outro e diz que o amor, afinal, não
se despede sozinho. não se vende na
loja de conveniência na prateleira
dos napperons. apaga as luzes;
fecha os olhos: os teus. o que fui
leva-o contigo e deixa que a densidade
da noite se abata sobre o telhado;
sobre este corpo que sonhou
irremediavelmente.

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