segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Frigorífico de Pasteur


as terras lavradas consomem o inverno
em que me deito. a forma das margens
a edificar o território das palavras e dos
que ainda sabem escrever sorrisos,
abraços que flutuam na pluralidade do mundo.
o fastio dos dias que acabam em silêncio
sobre a mesa fria e os dentes enegrecidos;
as mãos, as unhas sujas do tempo gasto
a procurar o espaço dos corpos entre as
plantas de mármore. lançamos o pião
e esperamos que pare de rodar; o barulho
do metal sobre o eco de nenhuma voz.
obedecemos ao processo simples do mundo
e acabamos os sonhos de manhã enternecidos
com o esquecimento, o desespero de não saber
o cheiro do corpo sintáctico que ocupa
o espaço; o tempo; a vida que resta.
e dança veloz em largos movimentos
de árvore; terra fértil de arados
a ocupar o inverno; a consumir o
corpo deitado que se arrasta para as
margens e sorri desmesuradamente
na esperança de uma palavra melhor -
mais bonita - que felicidade.
a terrível transparência da gramática.

Sem comentários:

Enviar um comentário